quinta-feira, abril 12, 2007

Politik 13

Fábula num reino de brandos costumes

- Bom dia!
- Bom dia.
- Olhe eu queria-me inscrever nesta universidade...mas já tenho cadeiras feitas noutra.
- Muito bem, tem que requerer um processo de equivalências.
- Ah… e o que é que é preciso para desencadear o processo?
- Traz um certificado de habilitações da universidade onde esteve matriculado e o programa curricular de cada cadeira que fez.
- Como? O certificado de habilitações e o programa curricular das cadeiras que fiz?
- Claro! Como quer a comissão de equivalências lhe possa dar equivalência a uma determinada cadeira se não souber o programa da cadeira?
- Mas….
- Claro, a Matemática que fez na sua universidade pode não ser equivalente à Matemática da nossa universidade…
- Mas então eu nem o certificado de habilitações tenho quanto mais o programa das cadeiras…
- Então lamento, mas sem esses requisitos não se pode desencadear o processo.
- Mas, não pode ao menos ficar aí com o meu nome… para garantir vaga… que eu entretanto vou ver se consigo arranjar a papelada…
- Está bem... sem compromisso, mas volto a avisar que sem esses documentos todos e fundamentalmente sem os programas curriculares de todas as cadeiras que fez, não tem qualquer possibilidade de sucesso… compreende, estas coisas têm que ser tratadas com todo rigor e seriedade para não haver equívocos de espécie nenhuma.
- pois...
- É uma questão de transparência dos actos processuais e administrativos, qualquer universidade pública lhe exige isto e nós, por sermos privados, temos que seguir à risca todos os procedimentos legalmente estabelecidos.
- pois…. então tome nota: ...engenheiro... errr...engenheiro Pinto de Sousa.
- Oh Sr. Engenheiro! Podia ter dito logo!
- … como?
- Então diga lá as cadeiras que fez!
- errr… então… fiz muitas…
- muitas?...ah bom nesse caso… deixe lá ver… faz mais quatro... não... mais cinco... que me diz?
- Está bem… o Sr. é que sabe... e os professores são muito exigentes?
- Não se preocupe Sr. Engenheiro! Olhe eu dou-lhe uma e arranjo outro professor que lhe dê as outras quatro.
- Um professor a dar quatro cadeiras diferentes no mesmo ano? Acha que ele vai nisso?
- Sr. Engenheiro, então? Não fosse eu o reitor.
- Caramba um professor a dar quatro cadeiras no mesmo ano é mesmo para esquecer, xiça!
- Não se preocupe que ele há-de ter uma compensação... pela disponibilidade, compreende...?
- ...então e… quando é que tenho o diploma…?
- Oh Sr. Engenheiro, mais uma vez não se preocupe, mesmo que não saia em nenhuma estatística pública terá o diploma nem que seja passado a um domingo!

E o Sr. engenheiro lá saiu da secretaria surpreendido consigo próprio, com o ego cheio de um charme persuasivo que desconhecia ter e surpreendido também, mas rendido, com os competentes e diligentes serviços da universidade. Sim, não havia nada a estranhar neste processo, até porque a pretendida universidade era permanentemente auditada pelos idóneos serviços tutelares.




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