terça-feira, novembro 12, 2013

Social 39




Basta pum basta!!!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!

Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!
excerto de um manifesto de Almada Negreiros

terça-feira, outubro 29, 2013

Social 38




Há cerca de duas semanas, num passeio pela província de Gaza, deparei-me com um cenário e com uma comunidade verdadeiramente espetaculares. No meio de uma picada de quilómetros, onde o cenário era apenas mato, quilómetros de mato, onde a espaços se passava por pequenos lugarejos com meia dúzia de casas, aparece de repente e sem aviso, uma igreja no meio de um espaço lindíssimo e bem cuidado.

É com certeza uma das igrejas mais bonitas e bem preservadas que já vi neste país. A comunidade que lá estava a celebrar uma missa era de um calor e de uma simpatia que comovia. Fizeram questão de nos incluir na sua celebração e de nos receber com sorrisos e de mãos estendidas. Não para pedir, para nos incluir, de mãos dadas, nos seus rituais de paz.

Este pequeno apontamento sobre esta igreja e esta comunidade não advém de nenhuma devoção particular pelo catolicismo, mas vem a propósito de uma frase proferida por Mia Couto num discurso feito esta semana numa Gala para atribuição do melhor de Moçambique. Um discurso muito emotivo e muito importante na atual situação social e política que se vive no país.

A frase, era seguinte: “O melhor de Moçambique são os que anonimamente constroem a nação moçambicana sem tirar vantagem de serem de um partido, de uma família, de uma farda.”

Para que esta frase não seja descontextualizada, deixo-vos aqui todo o discurso.
“Pensei bastante se estaria ou não presente nesta cerimónia. A razão para essa dúvida era a seguinte: há três dias a minha família foi alvo de várias e insistentes ameaças de morte. Essas ameaças persistiram e trouxeram para toda a nossa família um clima de medo e insegurança. A intenção foi-se revelando clara, depois de muitos telefonemas anónimos: a extorsão de dinheiro. A mesma criminosa ameaça, soubemos depois, já bateu à porta de muitos cidadãos de Maputo. 
Poderíamos pensar que essas intimidações se reproduzem a tal escala que acabam por se desacreditar. Mas não é possível desvalorizar este fenómeno. Porque ele sucede num momento em que, na capital do país, pessoas são raptadas a um ritmo que não pára de crescer. Esses crimes reforçam um sentimento de desamparo e desprotecção como nunca tivemos nos últimos vinte anos da nossa história.
Esses que são raptados não são os outros, são moçambicanos como qualquer outro cidadão. De cada vez que um moçambicano é raptado, é Moçambique inteiro que é raptado. E de todas as vezes, há uma parte da nossa casa que deixa de ser nossa e vai ficando nas mãos do crime. Neste confronto com forças sem rosto nem nome, todos perdemos confiança em nós mesmos, e Moçambique perde a credibilidade dos outros. 
Esses sequestros estão nos cercando por dentro como se houvesse uma outra guerra civil, uma guerra que cria tanta instabilidade como uma qualquer outra acção militar, qualquer outra acção terrorista. 
Este é um fenómeno que atinge uma camada socialmente diferenciada do nosso país. Mas o mesmo sentimento de medo percorre hoje, sem excepção, todos os habitantes de Maputo, pobres e ricos, homens e mulheres, velhos e crianças que são vítimas quotidianas de crimes e assaltos. 
Eu falo disto, aqui e agora, porque uma cerimónia destas nos poderia desviar do que é vital na nossa nação. Não podemos esquecer que o nosso destino colectivo se decide hoje sobretudo no centro do País, nessa fronteira que separa o diálogo do belicismo. E todos nós queremos defender essa que é a conquista maior depois da independência nacional: a Paz, a Paz em todo o país, a Paz no lar de cada moçambicano. 
Se invoquei a situação que se vive hoje em Maputo é porque outras guerras, mais subtis e silenciosas, podem estar a agredir Moçambique e a roubar-nos a estabilidade e que tanto nos custou conquistar. 
Caros amigos 
Estamos celebrando nesta Gala algo que, certamente, possui a intenção positiva de valorizar o nosso país. Mas para usufruirmos o que aqui está a ser exaltado, as melhores praias, os melhores destinos turísticos, precisamos de saber o ver o que nos cerca. Na realidade, e em rigor, o melhor de Moçambique não pode ser seleccionado em concurso. O melhor de Moçambique são os moçambicanos de todas etnias, todas as raças, todas as opções políticas e religiosas. O melhor de Moçambique é a gente trabalhadora anónima que, todos os dias, atravessa a cidade em viaturas transportados em condições que são uma ofensa à vida e à dignidade humanas. 
O melhor de Moçambique são os camponeses que embalam à pressa os seus haveres para fugirem das balas. O melhor de Moçambique são os que, mesmo não tendo dinheiro, pagam subornos para não serem incomodados por agentes da ordem cuja única autoridade nasce da arrogância. 
O melhor de Moçambique são os que anonimamente constroem a nação moçambicana sem tirar vantagem de serem de um partido, de uma família, de uma farda. 
Os melhores de Moçambique não precisam sequer que os outros digam que são os melhores. Basta-lhe serem moçambicanos, inteiros e íntegros, basta-lhes não sujarem a sua honra com a pressa de se tornarem ricos e poderosos. 
Os melhores de Moçambique não precisam de grandes discursos para acreditarem numa pátria onde se possa viver sem medo, sem guerra, sem mentira e sem ódio. Precisam, sim, de acções claras que eliminem o crime e a corrupção. Porque a par deste galardão que distingue o melhor de Moçambique há um outro galardão, invisível mas permanente, que premeia o pior de Moçambique. Todos os dias, o pior de Moçambique é premiado pela impunidade, pela cumplicidade e pelo silêncio. 
Caros amigos, 
Disse, no início, que hesitei em estar presente nesta gala. Mas pensei que me competia, junto com todos vocês, a obrigação de construir um evento que fosse para além das luzes e das mediáticas aparências. Nós queremos certamente que esta festa tenha uma intenção e produza uma diferença. E esta celebração só terá sentido se ela for um marco na luta pela afirmação de valores morais e princípios colectivos. Para que a nossa vida seja nossa e não do medo, para que as nossas cidades sejam nossas e não dos ladrões, para que no nosso campo se cultive comida e não a guerra, para que a riqueza do país sirva o país inteiro.”

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Social 37




Já fotografei muitas crianças. Normalmente é fácil "tirar" um sorriso espontâneo. Nesta aldeia não havia  nada que eu pudesse fazer para arrancar um sorriso a estas crianças, marcadas profundamente pela guerra. Uma gravidade na expressão que me impressionou e que diz bem das marcas que estas crianças terão vincadas na alma.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Social 36




Infelizmente, os meses de Janeiro e Fevereiro foram e continuam extremamente chuvosos na África Austral. Como consequência, para além da saturação natural da terra fortemente ensopada, os leitos dos principais rios de Moçambique que vêm dos países vizinhos, aumentaram drasticamente e provocaram graves inundações em vastas áreas de Moçambique.
O resultado foi catastrófico. Milhares de desalojados que perderam todos os seus bens amealhados numa vida de trabalho mal remunerado, dezenas de mortos e milhões de dólares de prejuízos na ainda débil economia moçambicana.
Uma das regiões do sul de Moçambique mais afetada, foi a cidade de Chókwe, uma cidade de interior que não resistiu à fúria das águas do rio Limpopo.
O cenário durante e após as cheias era de verdadeira emergência humanitária. A cidade ficou sem energia, sem água potável, sem comida.
Perante este estado de calamidade, vieram a público as autoridades dizer que era necessário tomar medidas para que estas catástrofes naturais não se repitam no futuro, que será necessário construir uma barragem para tentar prender a água, que se devem reabilitar e melhorar os diques de segurança da cidade e mais um sem número de medidas a propor e a estudar para se implementar no futuro.
Enquanto se ouviam estes discursos, assaltaram algumas questões no espírito de muita gente, que resumo apenas numa: no ano 2000 houve um desastre natural em tudo semelhante a este. Nessa altura, propuseram-se exatamente as mesmas medidas que agora se replicaram, e a pergunta que fica no ar é, o que se fez de 2000 até 2013 para que estas tragédias se minimizem?
No entretanto, as populações sofrem na pele flagelos humanos e vivem em condições desumanas à espera da caridade das mais variadas organizações e da sociedade civil, anónima e solidária.
Água, comida, roupa, medicamentos e outros bens de primeira necessidade são absolutamente essenciais para minimizar o sofrimento de milhares de pessoas que, num fluxo de água de horas,  deixaram de ser só pobres e passaram a ser dependentes da ajuda alheia.
Um dos muitos movimentos anónimos que se sensibilizaram e solidarizaram com o povo de Chókwe, um grupo de pessoas solidárias, levou os bens essenciais que pode recolher para confortar as vidas levadas repentinamente pela água e pela lama. 
Chegados a Chókwe, confrontados com a dura realidade, puderam testemunhar que mesmo no sofrimento e privados de tudo, havia um sorriso de um povo que os esperava, não por agradecimento, mas porque acreditam que um dia as suas vidas melhorarão. 
A esperança espelhada nos olhos faz acreditar que este povo é muito nobre no sofrimento e que merece mais atenção e carinho.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Social 35



A minha capacidade para me surpreender vai diminuindo à medida que vou envelhecendo. É natural, porque a acumulação de experiências deixa menos lugar à novidade. No entanto, e pese embora estar sempre disponível para novas ideias que me parecem válidas e consequentes, confesso que ontem fiquei completamente surpreendido. A surpresa rapidamente passou à estupefação e à indignação.
Vem esta prosa a propósito das declarações de um banqueiro português, Fernando Ulrich de seu nome, que afirmou que, "se os sem abrigo aguentam, nós também aguentamos".
Esta frase é lapidar e mostra de uma forma assustadora o que se passa na mente desta gente. Desta gente sim, desta gente, da banca e da alta finança, comprovadamente responsável pela intoxicação da economia, comprovadamente sugadores dos contribuintes, que sustentam a irresponsabilidade, a ganância e a distribuição indecorosa de lucros.
Depois, há um pronome pessoal ali metido no meio da frase que me indignou profundamente. "nós".
Mas nós quem? nós eles, os banqueiros? 
Se os nós forem eles, os banqueiros, o descaramento, o despudor e a insensibilidade na analogia são inqualificáveis. Até a afirmação do pobre do nosso presidente que disse que nem tinha dinheiro para as despesas parece pueril.
Se o nós formos nós, os contribuintes, a mensagem que daí decorre é: porque nos queixamos, afinal ainda não estamos debaixo da ponte e portanto há uma margem de manobra de uns milhões de cidadãos que se devem aguentar, até ficarem sem abrigo, porque ainda assim, aguentam.
Seja o que for que aquele senhor quis dizer, é profundamente aviltante. Se alguém tiver que ir para debaixo de uma ponte, que vão eles, que parece que aguentam e deixem os sem abrigo em paz!

quinta-feira, janeiro 31, 2013

Ambiências 61




Andar no mato, a pé, rodeado de vida selvagem, é uma experiência inesquecível. Por um lado sentimos-nos em plena harmonia com a natureza, integrados nos vários elementos naturais aproveitando -os todos para minorar o desconforto ou necessidades. Por outro lado, sentimos-nos pequenos, vulneráveis, atentos a todo e qualquer sinal de perigo, com níveis de adrenalina que nos despertam. Com o passar do tempo, aprendemos a interpretar os sinais à nossa volta, os sons, as marcas, os rastos e os movimentos dos animais que "falam connosco" e nos dão as várias notícias do dia e da noite que passou.
O som de um determinado pássaro pode ser indicativo da presença de determinado animal selvagem uma vez que eles criam simbioses com mamíferos que não convém encontrar de perto e de forma desprevenida, como é o caso dos búfalos e hipopótamos.
Os movimentos dos babuínos, de algumas aves e de antílopes permitem-nos avaliar e precaver da presença de grandes felinos, que também não convém encarar desprevenidamente.
Os rasto no mato e as marcas frescas nas árvores permitem-nos avaliar a presença recente de elefantes. Na foto de cima, um guia observa o mato em redor à procura de sinais de vida selvagem, no cimo de um tronco de um enorme embondeiro (árvore mítica africana), derrubado pela actividade dos elefantes. É muito comum ver árvores caídas por causa dos elefantes, é muito mais raro ver embondeiros deste porte.

sábado, janeiro 26, 2013

Ambiências 60



Tive a felicidade de fazer uma viagem que me ficará gravada na memória para sempre. No Botswana, entre as várias reservas naturais por onde passei, há uma especial, o Delta do Okavango. 
O Delta do Okavango é onde o rio Okavango se espraia e inunda uma área superior a 10.000 quilómetros quadrados, rasgando a Terra e talhando a vegetação num serpentear admirável. É uma região com uma beleza extraordinária, onde a natureza está totalmente ao seu destino e com uma intervenção humana mínima e que se expressa nas pouquíssimas construções lá existentes. É uma área de conservação por excelência e serve de habitat para centenas de espécies de pássaros. Os grandes mamíferos encontram aqui alimento durante todo o ano sendo por isso um vasto território de milhares de elefantes, búfalos, gnus e antílopes, hipopótamos e, claro, os felinos.
A rede de estradas (picadas para ser mais preciso) existente é pouco significativa e só se podem utilizar na estação seca, chegar ao coração do Delta é possível apenas de avião. Este é um registo aéreo.
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