sábado, abril 02, 2005

Biografia 01 - Fernando Lemos


Fernando Lemos nasceu em Lisboa, a 03 de maio de 1926, na Rua do Sol ao Rato. Cursou a Escola António Arroio e a Sociedade Nacional de Belas-Artes.

Fui estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador, publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado, director de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais, designer de feiras industriais, cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias, uma que me fez e outra que ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor. (Lemos: 1994)


Iniciada em Lisboa, a carreira artística de Fernando Lemos desenvolve-se, sobretudo, na área da pintura e do desenho. Tem hoje trabalhos expostos em museus e coleções particulares no Brasil, em Portugal, Espanha, Suíça, Polónia, França, Estados Unidos, Japão, Holanda, Argentina. Trabalhou, ou trabalha, também com tapeçaria, pastilha vidrada, vitrais, azulejos e esculturas em ferro; e ainda é fotógrafo e poeta.
Em pleno período salazarista e depois da provocatória exposição surrealista do Chiado, em que participou, resolve emigrar para o Brasil, onde se junta ao grupo dos exilados, vindo posteriormente a ser proibido de reentrar em Portugal, uma situação que se manteve até a Revolução de Abril.
O material fotográfico exposto em 1952 não representava, todavia, a totalidade da produção realizada em quatro anos. Parte de material foi apresentada, em exposições individuais ou coletivas, no Rio de Janeiro (1953), São Paulo (1968), Lisboa (1982), Montreal (1983) e Paris (1992). De 20 de julho a 9 de outubro de 1994, as fotografias foram expostas novamente em Lisboa, e reunidas num catálogo individual, composto por 113 peças, das quais mais de 50 % são retratos de pessoas ligadas directa ou indirectamente à nata da intelectualidade portuguesa de então; e, como em Portugal proliferam os poetas, são estes os mais fotografados.
Pinturas, fotografias e desenhos do corpo humano são fotografados, persistindo na busca indirecta dos corpos, reconhecidos na produção simbólica de outrem, como em “Mão de sombra”, “Luz do olhar”, “Banho de sol” ou “Espreitando o quadro de Moniz Pereira”, que é a fotografia da pintura das costas de uma mulher nua, e peça inicial de uma série de onze belíssimos nus, anónimos todos, alguns conseguidos através dos recursos – ou da falta deles, o que naturalmente estimula a criatividade – da antiga câmara Flexaret. Em “Movimento”, “Nu lento”, Nudez dança”, “Colagem” e “Gesto emoldurado”, vemos o produto final de um processo descrito por Fernando Lemos nos seguintes termos:
As experiências feitas na duplicidade da imagem fotografada, cujos resultados são normalmente considerados como acidente devido à batida de uma foto sobre outra, foram no nosso caso e aí expostas, intencionais. A máquina usada na época, uma Flexaret, não era automática. Isso permitia tirar partido do espaço de um rolo de 12 módulos de 6 x 6, imprimindo-lhe várias imagens com combinações programadas, conscientes e, ao final, obter várias dezenas de opções para imprimir cópias ampliadas de detalhes que se tornavam entidades. Não se trata então de sobreposição de negativos [...]. (Lemos: 1994)

Reconhece-se aqui o emprego dos recursos da sobreposição (realizada através de dupla exposição), e, em menor número, o da imagem em negativo ou a intervenção sobre cópia. O abandono de uma preocupação realista dá-se através da busca de uma linguagem centrada nos recursos do suporte. Ao mesmo tempo, a produção de Fernando Lemos está fortemente influenciada pela elaboração de uma atmosfera surrealista, em que a luz é trabalhada com eficiência na construção de um espaço irreal.
Após o primeiro impulso do automatismo, [...] as fotos que estão expostas, passaram também a ser dirigidas, controladas, programadas. Também nessa época, a colagem, sistema de emprestar a certas imagens já estabelecidas nalgum suporte a capacidade de adesão a outras sobre outros suportes, ocupou muito do nosso cuidado nas experiências. E, finalmente, a ocultação (não confundir com ocultismo) onde, por exemplo, a tinta da china se derrama coerente, desrespeitando as imagens já impressas, ora saqueando, ora desmistificando, ora resgatando o universo irónico das semelhanças e/ou das diferenças, ora na recriatividade de eliminar redundâncias num retracto, reduzindo-o ao que nele era achado essencial. (Lemos: 1994)

Fonte:triplov.com

  • Todas as fotografias expostas têm a permissão dos respectivos autores.
  • Exceptuam-se apenas as fotos da Secção Biografias.
  • O Blografias agradece a todos os autores que participam neste espaço de divulgação de fotografia
  • Optimizado para o IE 7.0 com resoluções de 1280 por 768 ou superiores

    Espaço criado e gerido por Francisco Máximo

    Blografias com luz - 2005-2012