segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Social 37




Já fotografei muitas crianças. Normalmente é fácil "tirar" um sorriso espontâneo. Nesta aldeia não havia  nada que eu pudesse fazer para arrancar um sorriso a estas crianças, marcadas profundamente pela guerra. Uma gravidade na expressão que me impressionou e que diz bem das marcas que estas crianças terão vincadas na alma.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Social 36




Infelizmente, os meses de Janeiro e Fevereiro foram e continuam extremamente chuvosos na África Austral. Como consequência, para além da saturação natural da terra fortemente ensopada, os leitos dos principais rios de Moçambique que vêm dos países vizinhos, aumentaram drasticamente e provocaram graves inundações em vastas áreas de Moçambique.
O resultado foi catastrófico. Milhares de desalojados que perderam todos os seus bens amealhados numa vida de trabalho mal remunerado, dezenas de mortos e milhões de dólares de prejuízos na ainda débil economia moçambicana.
Uma das regiões do sul de Moçambique mais afetada, foi a cidade de Chókwe, uma cidade de interior que não resistiu à fúria das águas do rio Limpopo.
O cenário durante e após as cheias era de verdadeira emergência humanitária. A cidade ficou sem energia, sem água potável, sem comida.
Perante este estado de calamidade, vieram a público as autoridades dizer que era necessário tomar medidas para que estas catástrofes naturais não se repitam no futuro, que será necessário construir uma barragem para tentar prender a água, que se devem reabilitar e melhorar os diques de segurança da cidade e mais um sem número de medidas a propor e a estudar para se implementar no futuro.
Enquanto se ouviam estes discursos, assaltaram algumas questões no espírito de muita gente, que resumo apenas numa: no ano 2000 houve um desastre natural em tudo semelhante a este. Nessa altura, propuseram-se exatamente as mesmas medidas que agora se replicaram, e a pergunta que fica no ar é, o que se fez de 2000 até 2013 para que estas tragédias se minimizem?
No entretanto, as populações sofrem na pele flagelos humanos e vivem em condições desumanas à espera da caridade das mais variadas organizações e da sociedade civil, anónima e solidária.
Água, comida, roupa, medicamentos e outros bens de primeira necessidade são absolutamente essenciais para minimizar o sofrimento de milhares de pessoas que, num fluxo de água de horas,  deixaram de ser só pobres e passaram a ser dependentes da ajuda alheia.
Um dos muitos movimentos anónimos que se sensibilizaram e solidarizaram com o povo de Chókwe, um grupo de pessoas solidárias, levou os bens essenciais que pode recolher para confortar as vidas levadas repentinamente pela água e pela lama. 
Chegados a Chókwe, confrontados com a dura realidade, puderam testemunhar que mesmo no sofrimento e privados de tudo, havia um sorriso de um povo que os esperava, não por agradecimento, mas porque acreditam que um dia as suas vidas melhorarão. 
A esperança espelhada nos olhos faz acreditar que este povo é muito nobre no sofrimento e que merece mais atenção e carinho.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Social 35



A minha capacidade para me surpreender vai diminuindo à medida que vou envelhecendo. É natural, porque a acumulação de experiências deixa menos lugar à novidade. No entanto, e pese embora estar sempre disponível para novas ideias que me parecem válidas e consequentes, confesso que ontem fiquei completamente surpreendido. A surpresa rapidamente passou à estupefação e à indignação.
Vem esta prosa a propósito das declarações de um banqueiro português, Fernando Ulrich de seu nome, que afirmou que, "se os sem abrigo aguentam, nós também aguentamos".
Esta frase é lapidar e mostra de uma forma assustadora o que se passa na mente desta gente. Desta gente sim, desta gente, da banca e da alta finança, comprovadamente responsável pela intoxicação da economia, comprovadamente sugadores dos contribuintes, que sustentam a irresponsabilidade, a ganância e a distribuição indecorosa de lucros.
Depois, há um pronome pessoal ali metido no meio da frase que me indignou profundamente. "nós".
Mas nós quem? nós eles, os banqueiros? 
Se os nós forem eles, os banqueiros, o descaramento, o despudor e a insensibilidade na analogia são inqualificáveis. Até a afirmação do pobre do nosso presidente que disse que nem tinha dinheiro para as despesas parece pueril.
Se o nós formos nós, os contribuintes, a mensagem que daí decorre é: porque nos queixamos, afinal ainda não estamos debaixo da ponte e portanto há uma margem de manobra de uns milhões de cidadãos que se devem aguentar, até ficarem sem abrigo, porque ainda assim, aguentam.
Seja o que for que aquele senhor quis dizer, é profundamente aviltante. Se alguém tiver que ir para debaixo de uma ponte, que vão eles, que parece que aguentam e deixem os sem abrigo em paz!
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