quarta-feira, abril 27, 2005
segunda-feira, abril 25, 2005
Eduardo Gageiro
A partir de certa altura, o meu pai decidiu que a minha progressão profissional deveria de passar pela própria fábrica.
Primeiro fui paquete e depois empregado de escritório neste enorme complexo industrial mas, como é óbvio, devo ter sido o pior empregado de escritório do mundo, pois não tinha aptidão para a profissão.
Mas a verdade é que foi esse facto que me marcou toda a vida: a partir dos doze, treze anos, comecei a ganhar sensibilidade para determinados factos, como por exemplo ver, à saída da fábrica, os seus antigos operários a pedirem esmola. Essa visão marcou-me e, como o meu irmão Armando tinha uma pequena máquina fotográfica de plástico, que felizmente ainda guardo de recordação, iniciei-me na fotografia tentando registar os rostos, os olhares e as expressões de toda essa miséria social.
Mais tarde, alguns amigos emprestaram-me melhores máquinas fotográficas e, com a ajuda de alguns colegas que me iam dando algumas dicas a nível estético e técnico que me fizeram evoluir bastante.
Embora seja um autodidacta, penso que cedo mostrei que tinha alguma qualidade, já que ia conseguindo registar os momentos certos e captando os olhares mais profundos de uma determinada situação.
Como não tinha grande experiência, comecei por trabalhar no laboratório e, só mais tarde, é que comecei a ser requisitado para fazer trabalhos de entrevistas onde me esmerei para mostrar serviço. Algum tempo depois havia jornalistas que já me escolhiam preferencialmente a mim para fazer alguns trabalhos. A partir daí, com altos e baixos, não mais parei e a fotografia e o fotojornalismo acompanharam-me ao longo de toda a minha vida.
Embora em algumas alturas da minha vida, principalmente quando trabalhei no Século Ilustrado e na Presidência da República, não tenha tido muito tempo disponível, penso que ao longo dos últimos cinquenta anos, fui fotografando a cidade e as suas gentes de uma forma contínua.
Tive a felicidade de ter boas informações e depois a coragem de estar presente. Nestas condições o importante é não ter muito medo, pois algum todos têm, e o factor sorte também é decisivo. Depois é saber aproveitar e viver o momento.
Se tivesse de escolher alguma, talvez optasse por uma em que o Salgueiro Maia cerra os dentes e morde o lábio e que foi tirada na altura em que a tropas de Cavalaria 7, fiéis ao Governo, optam por aderir à Revolução. Mais tarde ele disse-me que esse foi o momento em que se apercebeu que a Revolução triunfara.
É um saudosista ou procura acompanhar o desenvolvimento?
25 de Abril
Todavia, antes do 25 de Abril já Gageiro tinha fixado na sua objectiva a dor e os danos provocados aos portugueses pela ditadura. A miséria, a fome e a tristeza de um povo estão artisticamente retratadas em célebres fotos suas. Gageiro é considerado o fotógrafo de Abril mas o seu trabalho já havia começado muito antes.
sábado, abril 23, 2005
Dia Mundial do Livro
Foto de Luís Olival
sexta-feira, abril 22, 2005
Intimidades 05
quinta-feira, abril 21, 2005
Social 10
quarta-feira, abril 20, 2005
Social 09
segunda-feira, abril 18, 2005
sábado, abril 16, 2005
Retratos 06
sexta-feira, abril 15, 2005
quarta-feira, abril 13, 2005
segunda-feira, abril 11, 2005
sábado, abril 09, 2005
sexta-feira, abril 08, 2005
quinta-feira, abril 07, 2005
quarta-feira, abril 06, 2005
terça-feira, abril 05, 2005
domingo, abril 03, 2005
Papa João Paulo II
sábado, abril 02, 2005
Biografia 01 - Fernando Lemos
Fernando Lemos nasceu em Lisboa, a 03 de maio de 1926, na Rua do Sol ao Rato. Cursou a Escola António Arroio e a Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Fui estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador, publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado, director de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais, designer de feiras industriais, cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias, uma que me fez e outra que ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor. (Lemos: 1994)
Em pleno período salazarista e depois da provocatória exposição surrealista do Chiado, em que participou, resolve emigrar para o Brasil, onde se junta ao grupo dos exilados, vindo posteriormente a ser proibido de reentrar em Portugal, uma situação que se manteve até a Revolução de Abril.
O material fotográfico exposto em 1952 não representava, todavia, a totalidade da produção realizada em quatro anos. Parte de material foi apresentada, em exposições individuais ou coletivas, no Rio de Janeiro (1953), São Paulo (1968), Lisboa (1982), Montreal (1983) e Paris (1992). De 20 de julho a 9 de outubro de 1994, as fotografias foram expostas novamente em Lisboa, e reunidas num catálogo individual, composto por 113 peças, das quais mais de 50 % são retratos de pessoas ligadas directa ou indirectamente à nata da intelectualidade portuguesa de então; e, como em Portugal proliferam os poetas, são estes os mais fotografados.
Pinturas, fotografias e desenhos do corpo humano são fotografados, persistindo na busca indirecta dos corpos, reconhecidos na produção simbólica de outrem, como em “Mão de sombra”, “Luz do olhar”, “Banho de sol” ou “Espreitando o quadro de Moniz Pereira”, que é a fotografia da pintura das costas de uma mulher nua, e peça inicial de uma série de onze belíssimos nus, anónimos todos, alguns conseguidos através dos recursos – ou da falta deles, o que naturalmente estimula a criatividade – da antiga câmara Flexaret. Em “Movimento”, “Nu lento”, Nudez dança”, “Colagem” e “Gesto emoldurado”, vemos o produto final de um processo descrito por Fernando Lemos nos seguintes termos:
As experiências feitas na duplicidade da imagem fotografada, cujos resultados são normalmente considerados como acidente devido à batida de uma foto sobre outra, foram no nosso caso e aí expostas, intencionais. A máquina usada na época, uma Flexaret, não era automática. Isso permitia tirar partido do espaço de um rolo de 12 módulos de 6 x 6, imprimindo-lhe várias imagens com combinações programadas, conscientes e, ao final, obter várias dezenas de opções para imprimir cópias ampliadas de detalhes que se tornavam entidades. Não se trata então de sobreposição de negativos [...]. (Lemos: 1994)
Reconhece-se aqui o emprego dos recursos da sobreposição (realizada através de dupla exposição), e, em menor número, o da imagem em negativo ou a intervenção sobre cópia. O abandono de uma preocupação realista dá-se através da busca de uma linguagem centrada nos recursos do suporte. Ao mesmo tempo, a produção de Fernando Lemos está fortemente influenciada pela elaboração de uma atmosfera surrealista, em que a luz é trabalhada com eficiência na construção de um espaço irreal.
Após o primeiro impulso do automatismo, [...] as fotos que estão expostas, passaram também a ser dirigidas, controladas, programadas. Também nessa época, a colagem, sistema de emprestar a certas imagens já estabelecidas nalgum suporte a capacidade de adesão a outras sobre outros suportes, ocupou muito do nosso cuidado nas experiências. E, finalmente, a ocultação (não confundir com ocultismo) onde, por exemplo, a tinta da china se derrama coerente, desrespeitando as imagens já impressas, ora saqueando, ora desmistificando, ora resgatando o universo irónico das semelhanças e/ou das diferenças, ora na recriatividade de eliminar redundâncias num retracto, reduzindo-o ao que nele era achado essencial. (Lemos: 1994)
Fonte:triplov.com