segunda-feira, agosto 18, 2008
Intimidades 18
Cantava o Luís Represas em tempos, uma canção que não sei, e sou incapaz de reproduzir de memória, precisamente sobre a memória. E dizia ele que “as memórias são como livros escondidos no pó”. Mas são livros especiais, com muito menos páginas do que as vivências, porque não contam a história toda, mas só aquilo que se quer recordar. Uma espécie de resumos subliminares das coisas boas que se quis guardar. Dizia também um filósofo a este propósito que “A memória age como a lente convergente na câmara escura: reduz todas as dimensões e produz, dessa forma, uma imagem bem mais bela do que o original”
É tanto assim que se se quiser reconstituir um momento passado vivido por duas ou mais pessoas, elas, em conjunto, terão uma história bem mais rica e diferente do que se fosse contada por apenas uma.
É exactamente sobre este confronto de memórias sobre a mesma história que me apetece dizer que no essencial, a tela, a matriz, o cenário são os mesmos. As cores e os pormenores dos traços com que se enchem a tela é que são diferentes e essas diferenças são determinantes no relato de uma história ou de um acontecimento.
Vem isto a propósito de memórias passadas que revisitei quando estive em Portugal e memórias futuras que ficarão daqui de Moçambique ou de outro lado qualquer onde possa estar e vem também a propósito de que, no essencial, gosto das memórias que vou colectando. E sinto-me em paz. Uma paz, porém, irrequieta.
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Fátima Serrão Lopes
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1 comentário:
As memórias irrequietas são aquelas que produzem obras de arte.
A quietude nada cria, porque a vida não é o vazio que talvez muita gente gostasse.
As memórias são criadas pela vida que é luta, gargalhada, lágrima, raiva... ilusão, desiluzão, e surgem dum passado do qual, por vezes, já não nos recordamos.
A Luz A Sombra
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