quarta-feira, julho 16, 2008

Séries 27




Regressei durante um mês e meio à terra natal, o cantinho da Europa. Acho que não exagero se disser que a minha percepção é que algo mudou neste ano que passou e mudou infelizmente para pior. A depressão colectiva que já dava sinais no ano passado instalou-se e, segundo parece, para ficar por muitos e penosos anos.

Crise é a palavra mais ouvida e escrita neste país: crise energética, crise imobiliária, crise alimentar, crise social, crise bolsista, crise financeira. Desemprego, pobreza, nova pobreza, falências, sobre-endividamento, insegurança, violência urbana, fraudes, são os chavões que fazem manchetes na comunicação social. Não há opinador, comentador e político que não falem e não vaticinem que a crise está e para durar.

O curioso é que nesta crise, aqueles que a anunciam que a originaram e que a gerem, não parecem nada afectados por ela. Na verdade a crise é para os outros e não para eles. Lucros indecorosos das grandes empresas que nunca ganharam tanto, ordenados e autodistribuição de prémios verdadeiramente escandalosos e indecorosos que contrastam com a miséria crescente à sua volta. Uma verdadeira lógica de terra queimada que será impossível de sustentar. O exemplo paradigmático é o da cimeira dos G-8 no Japão onde o tema em cima da mesa era a fome, a crise alimentar e ambiental. Ora os 8 e mais uns amigos refastelaram-se com um jantar que nos dias que correm seria facilmente catalogado de pornográfico!

No meio disto encontro uma franja social portuguesa frequentadora da noite que vive a vida como se ela fosse acabar amanhã porque o futuro anda demasiado incerto: Imediatismo nas relações como se fossem um sorvete, imediatismo na atitude como se o álcool e as drogas deixassem abrir as portas que sobriamente estariam fechadas. Porque em alturas de depressão nada como uns aditivos para colorir o cinzentismo paira no ar, que pintam o mundo de amor fácil e que mostram as "realidades" que se querem mirar.

No final, tendo a achar que África, com todos os desequilíbrios, toda a humidade e calor, é um local de descanso e de repouso.

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