Os animais não têm alma nem tão pouco sentimentos - dizia a psicóloga num tom professoral. As duas jovens ouvintes olharam para ela incrédulas e desmultiplicaram-se em exemplos que contrariavam a afirmação dos sentimentos, porque no que toca à alma era coisa demasiado etérea para se agarrarem, e diziam, então e os cães? nunca os viu a rirem... e os cavalos não sabe que têm uma personalidade forte...? e a psicóloga mantinha o seu tom altivo e douto e reafirmava, segura, que do ponto de vista da psicologia científica nada fazia provar que os animais tivessem sentimentos, apenas reagiam a estímulos, e elas insistiam, mas... nunca conviveu de perto com animais? sim porque se o tivesse feito saberia que isso não é verdade.
Ela continuava, escudando-se nas correntes científicas mas nunca sendo capaz de contrapor claramente os exemplos e argumentos que elas iam apresentando em catadupa porque, na verdade, nunca tinha convivido com qualquer espécie de animal. Até que elas, fartas de tanta verborreia livresca olharam uma para a outra e pensaram em simultâneo: que animal...