Na memória dele, aquela casa ficaria registada para sempre, talvez pelas janelas que radiavam a luz exterior banhando sauve e delicadamente todo o interior, talvez pelo cheiro salgado dos salpicos das ondas que planavam naquela brisa marítima envolvente. Fosse do que fosse seria sobretudo porque ela lá estava. A música que saía dos altifalantes enchia o quarto soalheiro de sons lânguidos e vozes quentes, melosas. Lá fora o mar estava calmo, as ondas espraiavam-se num ritmo suave, cadenciado mas determinado. O sal dos corpos que se encontravam e fundiam, cúmplices, apaixonados, misturava-se com o da maré ao ritmo das ondas.
À distância, é sempre difícil saber, na enorme sequência de acontecimentos que compõem a vida, qual o momento decisivo a partir do qual se pode dizer que se estabeleceu uma mudança, e, por consequência dela, todos os acontecimentos vindouros estarão irreversivelmente cunhados por aquela marca indelével. No entanto, para ele, o exercício da descoberta do momento primordial não era determinante, determinante era sentir ainda e cada vez mais o desejo inicial fortalecido sabendo que as horas passadas naquela casa das marés se iriam multiplicar na serra, no mar, ali, acolá ou onde a maré os levar.
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