(composição de duas fotografias)
Aquando da minha viagem no Quénia no final de 2011, tinha previsto um itinerário que partiria de Nairobi até ao Oceano Indico, com destino a Mombaça. Depois de ter pesquisado várias opções, que passariam por avião ou carro, soube de uma terceira opção, o comboio.
Entusiasmado com a ideia de uma viagem de comboio que permitiria viajar e ver regiões mais recônditas do Quénia procurei saber mais informações sobre esta opção. Após algumas pesquisas e trocas de emails com amigos que vivem em Nairobi, percebi que esta viagem era uma excelente opção por conciliar a viagem, a descoberta e a aventura.
O horário previsto era sair de Nairobi às 19:00 h, e chegar a Mombaça às 10:00 da manhã do dia seguinte. O jantar e o pequeno almoço eram servidos na carruagem restaurante e a noite era passada num compartimento com duas camas. Os meus amigos disseram-me que era uma viagem a fazer, agradável e tranquila.
Entretanto, em Nairobi, percebi que o ambiente na cidade era extremamente tenso e que resultava de mais uma crise com o movimento terrorista da milícia radical somali Al Shabab. Tinham havido recentemente combates com este movimento na fronteira da Somália e retaliações com atentados à Granada em Nairobi. Não havia restaurante, centro comercial ou outra zona de acesso público onde não verificassem todas as pessoas, com detetores de metais, revistassem malas ou mochilas e mesmo os carros quando acediam aos parques de estacionamento eram revistados manualmente e com espelhos para o despiste de engenhos explosivos. Aliás, este conflito não se apaziguou e há uma semana houve um violento atentado numa zona muito movimentada da capital, num terminal de transportes públicos, morreram seis pessoas e várias dezenas ficaram feridas.
Depois de viver esta autentica paranoia securitária própria de um estado de guerra, comecei a pensar se tinha sido boa a opção de viajar de comboio numa viagem tão longa e que parava em tantas localidades, tornando este comboio um alvo apetecido de quem quiser ter atenções mediáticas para alimentar a causa.
Às 18:30, cheguei à estação e deparei-me com milhares de pessoas que se amontoavam na estação à espera do comboio. Curiosamente a entrada na estação não tinha qualquer procedimento de segurança. De início apreensivo, comecei a relaxar depois de conversar com vários turistas das dezenas que lá estavam para apanhar este comboio. Fiquei ainda mais relaxado quando vi muitas famílias de gente dos mais variados lugares do ocidente, com imensas crianças que esperavam com expectativa o comboio.
Às 19:00 como previsto o comboio chegou à gare e fiquei incrédulo com a pontualidade. Enganei-me, o comboio tinha chegado de Mombaça, ia naquele momento para a lavagem, limpeza, ser fornecido de comida e roupa de cama.
Esperei, esperámos todos. Às 23:00 já estávamos todos cansados da espera, com fome, porque era suposto haver um jantar no comboio às 20:00. Às 23:00 chega novamente o comboio, desta vez preparado para partir. Começámos todos a entrar, à procura da carruagem certa naquele comboio gigante que se preparava para transportar milhares de pessoas. Depois de procurar pelas carruagens de 1ª classe que tinham os compartimentos cama, lá as encontrei e arrumei-me.
Como só havia um vagão restaurante, o meu jantar iria ser servido na terceira ronda. Hora prevista 2:00 da manhã. Por volta das 24:00 o comboio iniciou a viagem rumo a Mombaça. Depois de umas cervejas na gare enquanto esperávamos o comboio e o ram-ram do comboio agora em movimento caí num sono profundo. Acordei à 1:30 com o sino que anunciava a segunda leva para o jantar. Adormeci novamente. Acordei às 4:00, obviamente sem jantar. O tempo para o jantar já tinha acabado, explicaram-me amavelmente. Protestei com os atrasos que se convenceram a servir o jantar aquela hora tardia.
Fiquei a olhar atentamente para o comboio, dos anos 50, cheio de pormenores luxuosos para a época, mas que agora já não funcionavam. Ventoinhas nos tetos, lavatório com água no compartimento, luzes de leitura nas camas, tomadas para maquinas de barbear, pormenores que na altura faziam o conforto dos passageiros.