Há dias, em conversa com um amigo moçambicano, de uma geração mais jovem e informada, que trabalha no sector da saúde, dizia-me, para meu espanto e arrepio, que o número de crianças violadas e infectadas com doenças sexualmente transmissíveis que entram todos os dias no Hospital Central de Maputo, é assustador. E explicou-me as causas que dão origem a tão desumana realidade: a crença irracional e ignorante.
domingo, abril 25, 2010
Social 19
Há dias, em conversa com um amigo moçambicano, de uma geração mais jovem e informada, que trabalha no sector da saúde, dizia-me, para meu espanto e arrepio, que o número de crianças violadas e infectadas com doenças sexualmente transmissíveis que entram todos os dias no Hospital Central de Maputo, é assustador. E explicou-me as causas que dão origem a tão desumana realidade: a crença irracional e ignorante.
quarta-feira, abril 14, 2010
Ambiências 54
Sem nada para fazer, passeei pela aldeia que entretanto tinha caído em peso à volta do chapa para gozar a novidade do dia. A excitação era geral e aumentou quando viram que no chapa vinham uns molungos (brancos no dialecto changana). As crianças pediam para serem fotografadas, os adultos pediam dinheiro, enfim, um cenário quotidiano que há muito me habituei.
Chegámos ao pôr-do-Sol. À nossa frente uma extensa e fina ponte que deixava circular apenas uma viatura. Uns quilómetros ao fundo, um pequeno pedaço de terra que começava a ganhar definição: A Ilha de Moçambique.
Chegádos à ilha, rapidamente percebemos que esta está dividida em duas zonas, a zona colonial, onde os vestígios de construção colonial estão fortemente presentes e uma outra zona, densamente povoada pelos habitantes locais e onde as palhotas e barracas de tectos de zinco abundam em ruelas sujas e estreitas.
A zona colonial apresenta imensas zonas com casas degradadas, ocupadas por famílias numerosas. A espaços veêm-se casas reabilitadas que deixam adivinhar interiores de tectos altos e divisões espaçosas. As casas aqui tem uma semelhança enorme com as casas senhoriais alentejanas, paredes grossas, caiadas de branco ou em tons ocres, com as faixas de tinta azul ou amarela que rodeiam as janelas e as portas.
Na praça principal, que rodeia a antiga casa do governador, hoje um museu em reabilitação paga por avultados fundos da cooperação portuguesa, existe o típico largo do coreto, sobranceiro ao mar que se encontra a poucos metros.
A ilha está recheada de marcas arquitéctónicas tipicamente portuguesas, igrejas, casas e ruas com marcas do sul de Portugal, o Alentejo. Até os azulejos dos interiores das cozinhas são iguais aos azulejos das casas senhoriais alentejanas com padrões geométricos que criam ilusões ópticas. Os mesmos que vi na minha infância quando ia a Évora passar os natais.
Noutra zona, no cimo de um terraço de uma casa magnífica, agora transformada num simpático e acolhedor restaurante italiano, avista-se numa das ruas principais uma construção imponente mas infelizmente muito degradada: o hospital da Ilha. O aspecto interior faz temer pela saúde dos habitantes da ilha.
Calcorreando as ruelas da ilha cruzamo-nos com uma população maioritariamente muculmana, simpática e hospitaleira. Numa ruela descubro uma madrassa, uma escola muçulmana, onde os meninos desde pequenos aprendem o islão.
A professora convida-me a entrar, explica-me que trabalha com um grupo numeroso de crianças orfãs e assisto a uma demonstação dos meninos. Começam a recitar de cor os textos do Alcorão. Não percebo uma palavra, mas percebo que falam fluentemente, sinal de que a lição está bem aprendida.
E passeando naquelas ruas rapidamente se percebe que o ritmo do tempo é vagaroso, as pessoas pouco têm que fazer e matam o tempo esperando que qualquer coisa surja, qualquer coisa lhes dê motivos para se ocuparem. Parecem de facto ancorados num tempo que flui lentamente, sem sonhos e sem grandes novidades que os animem.