domingo, setembro 24, 2006

segunda-feira, setembro 18, 2006

Séries 10

Hoje é dia de prós e contras. Adivinhem o tema. Não acertei no euromilhões.

domingo, setembro 10, 2006

Ambiências 31

Anteontem, no telejornal da RTP1, passou a meio da emissão uma notícia flash que dizia que segundo um estudo os professores portugueses eram os terceiros mais bem pagos da OCDE. A notícia parecia um meteorito daqueles que se desfazem imediatamente mal entra na atmosfera, porque foi apresentada e nada mais se disse. Não houve comentários, entrevistas ou análises à notícia que ali, naquele estúdio, caíu do céu. Perguntei-me se esse mesmo estudo não iria concluir que o salário mínimo nacional estaria afinal também muito bem classificado e se, com os mesmos critérios, afinal desconhecidos, o salário dos políticos não estaria no topo do ranking da OCDE.
Aposto qual vai ser brevemente o tema dos prós e contras.

sábado, setembro 02, 2006

Modos de Vida 15

Estava calor. Um calor húmido e abrasador, daqueles que faziam destilar todos os eventuais venenos que se pudessem ter ingerido nos dias anteriores. À volta, calhaus, rochas e areia em planícies limitadas ao longe por cadeias montanhosas que rasgavam o horizonte como fantasmas, com contornos pouco nítidos e que ondulavam ao sabor do calor que o solo radiava. Depois de algumas horas naquele deserto árido onde apenas se atreviam algumas cabras afoitas na busca de algo seco e orgânico avistei o que se poderá naquelas bandas chamar de quinta. O único sinal de que a quinta não estava abandonada era a presença de um homem que se deslocava naquela aridez cumprindo gestos e hábitos quotidianos de quem está habituado a viver com mãos cheias de nada rodeado de coisa nenhuma. Abordei-o. Pediu-me um cigarro. Dei-lhe um cigarro e rapidamente percebi que aquele dia seria para ele um dia de sentimentos contraditórios: Por um lado o festim do cigarro, por outro, a intrusão de forasteiros naquelas terras onde ele se sentia rei. Perguntei-lhe que fazia ele ali naquele sítio à torreira do sol. Disse-me que tinha ido buscar água. Olhei para o recipiente que transportava. Havia lá um líquido acastanhado. Perguntei-lhe o que conseguia cultivar naquela aridez. Olhou para mim e disse-me que cultivava tudo. Confuso, olhei em volta e apenas umas tamareiras amarelecidas rasgaram o solo duro e quebradiço. Olhou para mim e acrescentou sorrindo, tudo, quando chove. Um sorriso que me arrepiou, por ser um sorriso triste, todavia superior, com trejeitos de ironia. Naquele sítio não chove faz anos. Acendi-lhe o cigarro, dei-lhe mais uns cigarros e ele afastou-se transportando aquele líquido acastanhado com o mesmo sorriso com que me havia presenteado.
Ao fim do dia, chegado ao reduto com aromas ocidentais, com o corpo ainda coberto de aridez, ouvia-se na televisão que emitia a RTP África um drama nacional que afectava a nação lusa: O Caos na Liga de Futebol. Adormeci num sono solto, assaltado por aquele sorriso.
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