quarta-feira, novembro 24, 2010

Social 26

Fotografia de Paulo Nozolino

Foto de Paulo Nozolino


Um pouco por toda a Europa existe uma vaga de protesto da população que está cansada e desesperada com a situação de crise generalizada que se vive no mundo e nos seus países em particular. Portugal não foge à regra e hoje foi dia de protesto, de contestação, de greve geral.
Há quem diga que isto é orquestração dos malditos sindicatos, há quem diga que é seguidismo dos que não querem trabalhar, há quem diga e desdiga uma série infindável e sempre questionável de argumentos.
O que parece inquestionável é o descalabro da economia capitalista. E há muitos reputados intelectuais sérios e honestos por esse mundo fora, de reputadíssimas universidades, que o afirmam há muito tempo.
Como tributo a esta insatisfação geral que se vive, deixo aqui mais uma crónica sagaz e corrosiva, escrita há menos de um mês por Mia Couto, que a escreveu a pensar especialmente em Moçambique, mas que não se esgota nem em Moçambique, nem em Portugal. Sobre os homens-sombra.

"Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na ção muito gaseificada.
Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua dra-se no combate contra a pobreza.
Mas a corrupção, em Moçambique, tem uma dificuldade: o corrup tor não sabe exactamente a quem subornar. Devia haver um manual, com organograma orientador. Ou como se diz em workshopês: os guidelines. Para evitar que o suborno seja improdutivo. Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup to: em nome da lei, assalta o cidadão.
Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele e sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau tela, os do chefe do chefe.
O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de- conta. Para um país a sério não serve."

sábado, novembro 13, 2010

Ambiências 55

 Foto de Francisco Máximo


Já tive a sorte de poder visitar alguns lugares da Terra. Confesso que me falta quase tudo para ver, mas das experiências de viagens que colectei ao longo da vida, houve uma que me surpreendeu muito mais do que esperava. A Namíbia.

A Namíbia é um país que do ponto de vista paisagístico é único. Tem paisagens surreais onde o deserto e os terrenos áridos se conjugam com cores e neblina dando formas e ambientes que não parecem deste mundo. Mas para além da fantástica beleza do país, há a destacar também a organização e as infra-estruturas.

É um país imenso, com uma rede de estradas asfaltadas e de terra batida que faz inveja a todos os países africanos. Rede de distribuição de energia eléctrica por todo o país. As cidades limpas, sem confusão de tráfico, com variadíssimos pontos de recolha de lixo diferenciado para reciclagem.

A polícia e todas as autoridades tratam as pessoas com amabilidade, pedagogia e respeito. Nas lojas, a organização é o lema, o bom tratamento ao cliente é o mote.
Nos lugares turísticos, reservas naturais, hotéis e lodges o requinte impera. O serviço é de altíssima qualidade. Nas ruas, respira-se tranquilidade e segurança.


Foto de Francisco Máximo


Do ponto de vista da organização política, as várias etnias que compõem o país são vistas e reconhecidas como tribos com direito ao reconhecimento da língua própria nas escolas e o respeito pela cultura, religião e tradições. O mais curioso é que as ex-etnias colonizadoras, a alemã e a sul-africana bóer, são reconhecidas politicamente como tribos e tratadas em pé de igualdade às demais tribos autóctones.
É um país africano que não parece africano, dados os elevados padrões de organização e qualidade que apresenta.

Foto de Francisco Máximo

Em contraste, na viagem de regresso a Moçambique, depois de várias horas de atraso no aeroporto à espera do avião das Linhas Aéreas Moçambicanas, sem qualquer explicação ou satisfação da companhia, chegamos ao aeroporto de Maputo, fora de horas, cansados de tantas tempo de espera. Chegámos ao balcão da migração para apresentação dos passaportes e, não há ninguém. Com muita calma lá começam a chegar funcionários. Dispõem-se em dois balcões, sem haver separação para residentes, turistas ou diplomatas. Depois de mais um tempo infinito de espera para ter o carimbo de entrada no país, um funcionário pede para revistar as malas.

Digo-lhe, de uma forma irritada, que depois de mais de meio-dia de atraso, e aquela hora tardia, aquele procedimento poderia ser evitado. Começo a abrir a mala visivelmente mal-disposto. O funcionário olha para mim e diz-me: “dá lá refresco e podes passar”.

A primeira autoridade pública deste país revela-se imediatamente: isto é um país de extorsão e abuso. Claro que não paguei nada e fui-me embora, furioso.

Moçambique, um país rico do ponto de vista dos recursos naturais, com esta cultura do estou a pedir refresco, leia-se corrupção e extorsão, não vai longe e nunca poderá competir com países organizados como a Namíbia e nunca estará nos roteiros turísticos do mundo. A corrupção e a ineficiência dos serviços para instituir a corrupção são uns dos vários cancros deste país.

quinta-feira, novembro 04, 2010

20-10-2010


Depois da declaração, da festa, do brinde, das canções e da brincadeira, partiu-se à descoberta de uma nova fase da vida com um novo mundo como cenário. A Namíbia.
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