quarta-feira, novembro 19, 2008

Pele 27

Maputo, Moçambique, Novembro de 2008Foto de Francisco Máximo

Ultimamente ando a ler Mia Couto para matar o tempo que teima em não passar quando se está em convalescença quando dou com uma passagem num livro de contos que me fez sorrir, digo sorrir porque quando as costelas estão partidas, o peito não permite risadas.
" Quando se ama o coração engrandece. Mas o amor cresce mais rapidamente que o peito. Tens costelas que aguentem?"

sexta-feira, novembro 07, 2008

Intimidades 19

Beira Interior, Portugal, Julho de 2005
Foto de Francisco Máximo



A tattoo das Canárias já se apagou, mas o seu significado não.

Não dês cabo de mim... nem de ti!


segunda-feira, novembro 03, 2008

Ambiências 45

Era final de tarde e os últimos raios de Sol faziam as despedidas do dia. Um dia tranquilo, passado numa praia quase privativa com o mar quente e salgado que vinha em ondas suaves e cadenciadas. O verde esmeralda da água combinava com com o verde das árvores que banhavam as raízes na areia fina e clara. Ao longe, e sobranceiro ao mar, um enorme embondeiro guardava a praia e era o farol diurno daquela pequena baía.
Depois do corpo saciado por aquele mar cristalino, subi um pequeno trilho que dava acesso a umas pequenas casas. No caminho, cruzei-me com um moçambicano macua que estava a preparar numa fogueira algo para comer. Parei, saudámo-nos e à boa maneira moçambicana, sentei-me com ele e começámos a conversar.
Disse que tinha nascido mais a norte de Pemba, numa pequena aldeia a caminho de Quissanga. Agora trabalhava em Pemba, guardava aquelas casas para onde eu me dirigia. Tomava também conta dos jardins e cuidava para que eles estivessem sempre verdes e viçosos. E a conversa decorria naquele ritmo paciente dos jardineiros à medida que ele ia mexendo o milho que tinha posto a torrar numa pequena lata que fazia os serviços de panela.
Então, começou-me a contar o segredo daquela comida. Você torra o milho, devagar para não queimar e não rebentar e, quando ficar amarelo torrado está pronto. Aí, você deixa arrefecer e mistura com amendoim e uma raiz e faz uma pasta. Quando a pasta estiver bem mexida, faz uns bolinhos e depois come. Quando você comer vai ficar animado, dizia com um ar e sorriso meio malandro. Animado? perguntei. Sim, disse ele já a rir, você toma isto quando está fraco e depois consegue estar uma noite inteira animado com uma mulher. Ai sim? Sim! anima mesmo, umas sete horas! Rimo-nos e deixámo-nos estar num silêncio pacífico apenas cortado pelo crepitar do lume.
Perguntei-lhe que mais segredos sabia, e ele disse-me que se eu quisesse saber segredos que falasse com as mulheres, com aquelas que pintam a cara. Despedimo-nos e eu continuei o meu caminho, feliz com aquele encontro de paz e de cultura.
Ontem, enquanto perguiçava à beira mar, lia um livro de contos do Mia Couto, e deparei-me com uma frase de um provérbio macua que me fez recordar este e outros encontros com aquele povo:
"O barco de cada um está em seu próprio peito."
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