sexta-feira, março 23, 2007

Intimidades 15



Tive uma vontade inexplicável de procurar a peosia do Miguel Torga sem saber o que procurar exactamente. Esperava encontrar alguma serenidade na escrita dele. Detive-me nestas palavras tranquilas e sábias:

"Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça."


Não sei se o acaso existe ou não, mas estas palavras assentaram-me que nem uma luva.

sábado, março 17, 2007

Ambiências 34


O dia de trabalho havia sido intenso e eles regressavam cansados ao espaço que de mais intimo tinham: o lugar onde partilhavam o silêncio, as conversas em jeito de balanço, o prazer, o amor e as angústias. Era fim de tarde, a luz laranja quente e suave banhava o alpendre sobranceiro ao rio, o lugar eleito para aqueles momentos de perfeita cumplicidade. O som que os envolvia era o da natureza selvagem que os rodeava numa extensão a perder de vista. Naquele dia havia algo especial que os envolvia e que lhes dava um calor suplementar à alma, os aromas e sabores da pátria distante. Sim, naquele dia, a pátria estava presente no aroma do coentro e no sabor do vinho do Douro que acompanhava o prato de bacalhau. O momento era de êxtase, um êxtase pleno que lhes enchia carinhosamente a alma.
Após a refeição, contemplaram mais uma vez a paisagem que os circundava e sentiram-se felizes. Felizes por estarem juntos, felizes por estarem em harmonia com a natureza luxuriante que generosamente os acolhia. No final daquela refeição tipicamente lusa, decidiram pintar uma tela. Coloriram-na com as cores fortes e alegres do projecto que haviam enfrentado. Sentiam-se em paz e cada pincelada na tela, que aos poucos ganhava forma, era um sinal de confirmação da escolha que haviam tido. No final brindaram, brindaram á vida, aos encontros e desencontros e ao projectos futuros.

quinta-feira, março 08, 2007

domingo, março 04, 2007

Retratos 22


Os animais não têm alma nem tão pouco sentimentos - dizia a psicóloga num tom professoral. As duas jovens ouvintes olharam para ela incrédulas e desmultiplicaram-se em exemplos que contrariavam a afirmação dos sentimentos, porque no que toca à alma era coisa demasiado etérea para se agarrarem, e diziam, então e os cães? nunca os viu a rirem... e os cavalos não sabe que têm uma personalidade forte...? e a psicóloga mantinha o seu tom altivo e douto e reafirmava, segura, que do ponto de vista da psicologia científica nada fazia provar que os animais tivessem sentimentos, apenas reagiam a estímulos, e elas insistiam, mas... nunca conviveu de perto com animais? sim porque se o tivesse feito saberia que isso não é verdade.
Ela continuava, escudando-se nas correntes científicas mas nunca sendo capaz de contrapor claramente os exemplos e argumentos que elas iam apresentando em catadupa porque, na verdade, nunca tinha convivido com qualquer espécie de animal. Até que elas, fartas de tanta verborreia livresca olharam uma para a outra e pensaram em simultâneo: que animal...
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