terça-feira, janeiro 24, 2006

Retratos 15


Foto de Luís Zilhão
Há dias fui ver uma exposição de fotografia intitulada “Capitão Goma”. O tema centrava-se na criança. Imaginário de cor, alegria e brinquedos. A espaços apareciam imagens que nos confrontavam e que tínhamos que parar e ver. Os trabalhos estavam expostos de uma forma muito apelativa e era com prazer que se percorria a galeria enquanto se ouvia um som de fundo de um vídeo: o som suave do mar na praia e o barulho da criançada a brincar. Saí contagiado pela animação daqueles sons alegres e pelas cores fortes que tinham ficado na retina.
Cheguei a casa. Enquanto trabalhava, saltou-me à vista um título de um livro do Tojal - Os putos – gravada na lombada de um livro amarelecido pelo tempo. Folheei-o e li algumas páginas salteadas. Acendi um cigarro – estou a tentar deixar de fumar. Ao meu lado a minha filha estava irritada porque não conseguia passar de nível num jogo da Playstation.
Arrumei o livro e fui assaltado por um pensamento que me deixou numa espécie de paz estupidificante: o Cavaco Silva ganha as eleições, Portugal está a salvo.
Acendi outro cigarro enquanto mascava uma pastilha nicorette.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Intimidades 11

Como exprimir em palavras tudo o que uma imagem nos suscita? Há imagens que por mais que se espremam não vertem qualquer som. Outras há que nos emudecem perante a sinfonia dos afectos, da cumplicidade e da sabedoria.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Intimidades 10

Do alto da janela ele contemplou-a mais uma vez. Aqueles momentos em que ele a via partir estavam a tornar-se uma rotina, uma rotina cada vez mais penosa. Ela, com um misto de paixão, ternura e provocação, despedia-se dele. Ambos sabiam que o tempo que tinham estado juntos estava marcado na pele. Ambos sabiam que se voltariam a ver antes de desaparecer completamente das almofadas o cheiro a corpos fundidos.

domingo, janeiro 15, 2006

Modos de Vida 08

Zoe, era uma mulher que, dizia-se, captava as energias exteriores. Sentia que conseguia sentir e descodificar o que a terra e os outros emanavam. Esta espécie de fusão com o mundo conferia-lhe uma aura contagiante. Sim, Zoe encantava. Fortes salpicos de sentido prático numa matriz esotérica. Definitivamente, essa combinação antagónica mas complementar deixava marcas indeléveis por onde passava. A alegria e a tristeza que carregava consigo faziam-se sentir na paixão que tinha pela vida.
Naquela quinta-feira, naquela tarde de quinta-feira, olhava para as gaivotas e sentia-se livre, sentia que também voava naquele voo lânguido, suave e doce.

As gaivotas também captavam as energias exteriores. Tinham uma enorme eficiência no aproveitamento das mais pequenas brisas e diferenças de temperatura para os voos planantes que realizavam.

Zoe voava com elas. O tempo corria agora noutro tempo e Zoe não tinha pressa nem sequer vontade de o acertar. Sabia que o tempo, aquele que pulsa sem parar, se encarregaria de o acertar e de a lançar em novos voos.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Ambiências 22

André era um homem tipicamente cosmopolita. Não passava sem a dose diária da adrenalina urbana da sua cidade: o cheiro a tinta de jornal fresco, o cheiro do gasóleo acumulado no interior do seu carro das intermináveis filas de transito que teimosamente insistia em andar, o cheiro das iscas requentadas, o cheiro indistinto de óleo alimentar queimado, o cheiro a tabaco pestilento depois de uma noite com Dj's. Dava-se conta que também não podia passar sem todo o ruido branco que o rodeava: os telemóveis a tocar insistentemente, as buzinas dos carros, os rádios, a televisão, os gritos, as pessoas, muitas pessoas e música.
Um dia disseram-lhe que tinha que parar, o seu coração não aguentaria mais aqueles tratos diários misturados com álcool e outros químicos que o enganavam. Parou. Foi viajar para paragens distantes, onde o tempo corre devagar e onde o prazer se encontra nos olhares, nos aromas e nos silêncios.
Consta que não regressou. Não se sabe bem se ficou por lá pelos campos budistas se pelas casas de ópio e do prazer. Pouco importa, na cidade ninguém deu pela sua falta.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Bom Ano

O tempo corre freneticamente. Toda a gente que conheço me diz que o tempo passa a voar, que ainda ontem foi a passagem de ano do ano passado e já estamos no final do ano outra vez. As pessoas dizem isto com um misto de preocupação e resignação.
Este ano, porém, a natureza ofereceu-nos com um argumento encorajador que combate o cansaço da passagem do tempo: O ano de 2005 teve mais um segundo!!!
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